Brasil lidera desenvolvimento de mercado de carbono da multinacional Bayer

Em entrevista a Globo Rural, Michael Stern, head de Climate Corporation e Digital Farming, disse que produtor brasileiro tem interesse em sequestrar CO2

A multinacional alemã Bayer está apostando no Brasil para desenvolver um mercado de carbono. Recentemente, a empresa já havia anunciado a compra de carbono de produtores rurais brasileiros.

Nesta quarta-feira (14/10), em entrevista a Globo Rural, Michael Stern, head de Climate Corporation e Digital Farming, revelou que o país é o foco da estratégia deste mercado.

“Temos ótimas relações com produtores ao redor do mundo, mas, no Brasil, os produtores estão muito interessados em sequestrar carbono, expandir os negócios com sustentabilidade. Eles são interessados em novas tecnologias e em testá-las”, disse.

A seguir, confira a entrevista:

Globo Rural – Como você enxerga o futuro da agricultura em um curto prazo, considerando a evolução digital em meio à pandemia?

Michael Stern – Não há dúvidas de que o futuro da agricultura caminha com a digitalização. Certamente, ela é uma ferramenta crítica para que os produtores possam tomar mais decisão com base em dados e sustentabilidade. Eu acho que a pandemia acelera a adesão de tecnologia e temos visto isso em todo o mundo, incluindo o Brasil. Não há muitas notícias boas trazidas pela pandemia, mas essa é uma delas.

GR – Mas a conectividade no campo ainda é um problema.

Stern – A conectividade não será resolvida com apenas uma companhia, mas precisamos de um trabalho em conjunto para expandir a banda larga nos campos do Brasil, incluindo iniciativas públicas e privadas. Estamos trabalhando com potenciais empresas provedoras de internet, mas é importante esclarecer que isso não é um problema só do Brasil, mas em áreas rurais de vários países. Por isso, a solução tem que partir de partes públicas e privadas. Enquanto isso, não podemos deixar de trabalhar para levar digitalização ao produtor. A gente trabalha na próxima geração de dados com tecnologia simples, que permite transmitir dados do trator ou da plantadeira até um celular e o escritório.

“A conectividade não será resolvida com apenas uma companhia, mas precisamos de um trabalho em conjunto para expandir a banda larga nos campos do Brasil, incluindo iniciativas públicas e privadas”

GR – E a relação entre tecnologia e o mercado de carbono? Eles caminham juntos, na sua visão?

Stern – Eles são completamente sinérgicos, porque são parte da solução de modelos de negócios entre ciência, meio ambiente e agricultura. Nós estamos comprometidos em pensar como podemos desenvolver algoritmos para aprimorar e otimizar a produção e, ao mesmo tempo, sequestrar carbono.

GR – O produtor brasileiro já está ciente da importância do carbono? Como educá-lo?

Stern – Será uma jornada, mas o processo será de criar uma geração de valor. Produzir soja, algodão, milho e, no meio disso, sequestrar carbono e fazer com que isso se torne um negócio próprio, com renda. Essa é a melhor forma de tornar isso educativo.

“O processo será de criar uma geração de valor. Produzir soja, algodão, milho e, no meio disso, sequestrar carbono e fazer com que isso se torne um negócio próprio”

 

GR – Como está o Brasil em comparação a outros países europeus ou aos Estados Unidos no que se refere ao mercado de carbono? Há muita diferença?

Stern – As diferenças se encontram a partir da ciência do solo, mas o que temos feito para desenvolver o mercado de carbono e testar nossas ferramentas é no Brasil. O Brasil está liderando estudos de desenvolvimento de ferramentas e, até, de desenvolver os próprios produtores. Temos ótimas relações com produtores ao redor do mundo, mas, no Brasil, os produtores estão muito interessados em sequestrar carbono, expandir os negócios com sustentabilidade. Eles são interessados em novas tecnologias e em testá-las.

GR – Você se refere aos grandes produtores? Como se encaixam os pequenos e médios?

Stern – Ultimamente, estamos considerando todos os tipos de produtores. O solo será o solo, a mesma tecnologia será aplicada visando o sequestro, sendo grande, pequena ou média propriedade. Você precisa começar de algum lugar, mas isso é uma tecnologia escalável e independe do tamanho da propriedade.

 

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15 de outubro de 2020 14:24

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