Queda na demanda europeia por carnes pode provocar renegociações de preços, afirmam especialistas.
A Comissão Europeia anunciou nesta segunda-feira (16/3) que suas fronteiras estão fechadas por pelo menos 30 dias, em 27 países da União Europeia e quatro membros da Zona Schengen, como medida de combate à pandemia de coronavírus. O anúncio da medida, que visa coibir principalmente o trânsito de pessoas entre os países, não detalha o transporte de alimentos ou se os portos europeus também serão fechados para o recebimento de mercadorias.
A União Europeia é um dos principais blocos compradores do Brasil e a demanda por alimentos, como carnes, vinha crescendo em 2020. Agora, a expectativa é que haja uma queda. “Com a determinação do isolamento social na Europa, a demanda por carnes deve cair nos próximos dois ou três meses, ou enquanto durar essa crise”, disse Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria. “Com a redução do volume, pode haver uma renegociação de preços”.
Com os países da União Europeia fora do jogo, a China, que já passou pela fase mais aguda da crise provocada pelo novo coronavírus, e está retomando sua rotina, pode pedir renegociação de contratos. “Certamente haverá um impacto em médio prazo, mas também uma retomada do consumo no segundo semestre”, diz. A Associação Brasileira da Indústria e Exportadores de Carnes (Abiec) informou que não irá se pronunciar sobre o tema.
A CitrusBR, que representa as indústrias exportadoras de suco de laranja brasileiras, disse que os embarques para a União Europeia, que é seu maior mercado, estão normais e que, durante a crise do coronavírus na China, nos últimos meses, o consumo de suco de laranja até aumentou no país. A bebida é rica em vitamina C, nutriente que ajuda no combate à gripe.
Grãos
As exportações de grãos ainda não foram afetadas pelo avanço da pandemia, avalia o consultor Carlos Cogo, com base nos números do primeiro bimestre deste ano. De acordo com ele, não houve no período grandes impactos na comercialização das commodities, e a queda nos embarques no acumulado de janeiro e fevereiro se deve aos problemas climáticos enfrentados no decorrer da safra 2019/2020.
“A queda das exportações de soja e milho é devida a questões internas, como atraso na safra, não tem a ver com o Covid-19. Os embarques aconteceram, a mercadoria está despachada e o processo aduaneiro, de entrada dessa mercadoria, é um problema a ser resolvido pelo país importador”, diz Cogo.
Segundo ele, a soja, no acumulado do primeiro bimestre, teve queda em volume de 9,6% em comparação ao mesmo período de 2019, principalmente devido à safra atrasada no mês de janeiro. Já o milho, registrou queda de 51,6% em volume ante o primeiro bimestre do ano passado. “O preço do milho está no maior patamar por conta da safra de verão, e as exportações acabaram sofrendo”, explica.
Na visão de Cogo, as exportações de milho deverão ser retomadas no segundo semestre, após a colheita da segunda safra. Ainda assim, ele afirma que os chineses estão aumentando as embarcações, haja vista que o Brasil é responsável pelo maior volume de importação de produtos agrícolas à China. O alerta fica para o segmento de insumos, principalmente defensivos, vindos do país asiático.
“Se persistir o problema de embarcação, pode criar um problema para a safra 20/21. Não há nada oficial, mas pode haver algum reflexo no valor e velocidade no abastecimento. Já está criando preocupação em alguns produtores, mas ainda há todo o segundo semestre pela frente para observarmos”, ele alerta.
Algodão e setor sucroenergético
Para o diretor da consultoria MB Agro, José Carlos Hausknecht, as cadeias produtivas de açúcar e etanol e de algodão devem sentir mais os efeitos da pandemia de coronavírus sobre os mercados em relação a outros segmentos do agronegócio. Segundo ele, a tendência é, de um modo geral, uma redução de consumo, mas os alimentos seriam menos afetados.
“Os alimentos seriam menos afetados, porque, no final das contas, a população acaba consumindo de alguma maneira. Obviamente, existem algumas mudanças de padrão de consumo. Cada lugar vai ter uma cultura diferente”, analisa.
O consultor explica que os setores de açúcar e etanol e de algodão estão mais atrelados ao mercado do petróleo, que vem sofrendo forte baixa de preços nas últimas semanas. Um movimento ligado a incertezas trazidas pela pandemia e também pelo impasse entre Arábia Saudita e Rússia em relação a ajustes de produção da commodity.
“O etanol cai por conta da gasolina. E o preço do açúcar caiu também. No algodão, o consumo já cai normalmente com o crescimento econômico baixo. Mas existe uma competição com as fibras sintéticas, que são afetadas por essa situação”, diz.
Em relação a outros segmentos, Hausknecht destaca que os preços internacionais também sofreram baixas. Mas, de modo geral, a valorização do dólar, que, nesta segunda-feira, fechou o dia cotado acima dos R$ 5, tem ajudado a sustentar os preços no Brasil. Na soja, por exemplo, o indicador do Cepea, com base no Porto de Paranaguá (PR), tem ficado acima dos R$ 90 a saca.
“A situação ainda é bastante razoável, especialmente aqui no Brasil, porque o câmbio tem ajudado muito”, avalia o consultor.
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