No Amazonas, açaí e óleo de andiroba também são exemplos da bioeconomia da região, que gera renda ao mesmo tempo que preserva o bioma
Cerca de seis toneladas de farinha de Uarini são vendidas por mês pelos ribeirinhos inseridos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Estado do Amazonas. A farinha de mandioca, que tem certificação de origem, é símbolo de geração de renda na região e se engana quem pensa que ela é consumida apenas pelo povo local.
O alto consumo é reflexo da demanda aquecida nos supermercados de Manaus e também no site do marketplace Americanas, conforme explica Valcléia Solidade, superintendente de Desenvolvimento Sustentável da Fundação Amazonas Sustentável (FAS).
Ela diz que há mais de seis comunidades envolvidas no plantio da mandioca e no processo de empacotamento, que é feito na própria Reserva. “Estamos falando de pequenos agricultores que, se juntando, podem escalonar a produção, como no exemplo da farinha, em que há mais de seis comunidades envolvidas para ser possível a confecção das seis toneladas”, afirma.
Esta é apenas uma das cadeias prioritárias da FAS, que receberam aportes do Fundo Amazônia entre 2010 e 2018, mas, depois do corte de orçamento, houve reflexos, segundo Solidade.
“As mais afetadas com o corte do Fundo Amazônia foram as comunidades, porque houve um desaceleramento dos projetos”
Valcléia Solidade, superintendente da FAS
“O primeiro projeto ajudou a melhorar 581 comunidades. A partir de 2016, começamos a dar vazão para alguns projetos como pirarucu, farinha, óleos, açaí. Então, queríamos ampliar para outras unidades, mas veio o corte do Fundo Amazônia. As mais afetadas foram as comunidades, porque houve um desaceleramento dos projetos, fomos obrigados a puxar o freio e priorizar apenas coisas menores”, conta ela, ressaltando que a FAS havia feito um planejamento de desenvolvimento da região até 2030, mas agora isso está estagnado.
Pirarucu
Apesar do impacto deixado pela ausência do Fundo Amazônia, a produção de pirarucu conseguiu ganhar escala na região de Mamirauá. Enquanto em 2017 eram pescadas cerca de 17 toneladas ao ano, o número mais que quadruplicou em 2019, para 75 toneladas/ano, segundo a superintendente da FAS.
“Esse é um processo que mostra como o trabalho deve ser socialmente justo. Não é só um trabalho de pesca do pirarucu, mas tem toda uma estratégia, reunião de definição de cotas, preservação dos rios, processo para a despesca do pirarucu”, detalha Solidade.
Considerada uma conquista para os ribeirinhos, a iniciativa recentemente recebeu a instalação de uma estrutura para salga do peixe, que resultou no avanço da comercialização. “E estamos ampliando isso para as feiras mensais do pirarucu, em que os próprios produtores vendem ao consumidor sem ter o atravessador”, observa, mencionando, ainda, as vendas para restaurantes e o uso na merenda escolar.
Gargalos
Ainda assim, Solidade enfatiza que os produtores continuam tendo dificuldade para acessar mercado, pois “faltam políticas mais atrativas e acessíveis de microcrédito e crédito rotativo”. Para ela, antes de falar da floresta como uma nova economia, é preciso resolver gargalos como a questão da logística, “pois, às vezes, se produz muito, mas em local muito distante não há em energia para manter o peixe fresco”.
Um exemplo da infraestrutura ainda precária é que a Globo Rural tentou por vários dias, mas não conseguiu fazer contato via telefone ou internet com produtores da região diante da falta de conectividade.
Apesar dos desafios, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é um exemplo da biodiversidade que gera renda na Amazônia. Solidade ainda diz que, no município de Novo Aripuanã, a comunidade local conseguiu construir uma casa de beneficiamento para o açaí, agregando valor ao fruto. Além disso, há a comercialização de óleos de andiroba e murumuru na região do médio Juruá para a Natura.
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