Além da diminuição de 38% nos últimos quatro anos, distribuidores não têm conseguido comprar o produto do Pará
Um dos principais ingredientes da famosa culinária baiana e símbolo da cultura no Estado, o azeite de dendê está escasso nas prateleiras e fábricas. Apesar da pandemia do coronavírus ter levado ao afastamento das cerca de 5 mil baianas de acarajé e ao fechamento de restaurantes, há risco de desabastecimento com a iminência da retomada das atividades em Salvador, capital baiana.
Em parte, a falta de azeite de dendê decorre da redução da safra do fruto no Estado, o segundo maior produtor do país. Nos últimos quatro anos, o recuo foi de 37,8%, segundo Demétrio D’Eça, presidente da Cooperativa dos Pequenos Produtores Rurais (Coomtrata) e do Sindicato dos Produtores Rurais de Nazaré.
Os produtores baianos relacionam a situação à falta de estímulo financeiro e técnico para alavancar a produtividade, fazer o replantio de áreas e introduzir novas tecnologias. “Ainda não é rentável para os agricultores, principalmente por não haver renovação dos dendezais com variedades produtivas, falta de tratos culturais nas existentes, ausência de assistência técnica permanente, falta de crédito rural, que foi praticamente inexistente para os produtores”, elenca D’Eça.
A produção baiana não é suficiente para atender a demanda do Estado, que recorre ao Pará, principal produtor de óleo de palma do país. “Ultimamente, o óleo de dendê que vem do Pará é que tem ajudado a suprir o mercado alimentício em função da atual baixa produção da Bahia”, afirma D’Eça.
O avanço da cultura na região Norte tem, justamente, todos os incentivos e assistência que carecem aos produtores na Bahia, como centro de pesquisa da Embrapa, que atende dos pequenos às grandes empresas. Além de contratos e leilões de compra para a produção de biodiesel.
Cleitom Magalhães é produtor, fabricante e distribuidor de azeite de dendê em Valença, no litoral baiano. Como a sua produção não atende à demanda em Salvador e região metropolitana, ele costuma comprar cerca de 300 toneladas todos os meses do Pará. Este mês, por conta da alta demanda e em função dos contratos para biodiesel, apenas um dos seus três fornecedores garantiu a entrega: 40 toneladas.
“Está havendo um desabastecimento [de azeite de dendê], apesar do consumo ter diminuído com a pandemia. Se estivesse acontecendo normalmente, seria pior ainda a situação. Eu acho que vai haver uma falta”, calcula Magalhães, tendo em vista a previsão de reabertura do comércio e de atividades nas próximas semanas anunciada pela prefeitura de Salvador.
Ainda segundo ele, os fornecedores justificam que, com a falta de óleo de soja devido às exportações de grãos, o óleo de palma, assim como as gorduras animais e outras matérias-primas de valores similares, têm sido adquiridas como alternativas para a indústria.
No primeiro semestre deste ano, sua produção foi 7,8% menor do que no mesmo período de 2019. Os registros mostram que a redução da produção tem sido recorrente ano após ano desde 2017.
Preços
Além de escasso, mesmo com apenas 15% das baianas de acarajé na ativa nos últimos meses, o azeite comprado por elas teve um aumento de preço de R$ 65 para R$ 120 reais o galão de 16 litros, segundo Rita Santos, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam).
Em nível global, o índice de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), divulgado na semana passada, apontou elevação no subíndice de óleos vegetais, com valores mais firmes para os óleos de palma, de soja e de colza.
“As cotações internacionais do óleo de palma subiram pelo segundo mês consecutivo em julho, em grande parte sustentadas por perspectivas de desacelerações de peodução nos principais países produtores devido a inundações decorrentes de fortes chuvas”
Organização das Nações Unidades para Agricultura e Alimentação (FAO)
Nos seis primeiros meses deste ano, o Brasil já importou mais óleo de dendê (183 mil toneladas) do que no mesmo período do ano passado (180 mil toneladas), segundo dados do Agrostat, sistema de estatísticas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Indonésia, Colômbia e Malásia são, respectivamente, os principais países vendedores do óleo para o Brasil.
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